25 de julho de 2005

As presidenciais e o estado do país

Para quem ainda tivesse dúvidas sobre a falência do sistema político vigente no nosso país o panorama para a preparação das candidaturas presidenciais veio por a claro toda a situação.
Mário Soares e Cavaco Silva simbolizam o passado recente da nossa história, com o desvio para a direita verificado em 25 de Novembro de 1975, após o derrube da ditadura fascista.

Passados trinta anos não existe nada de novo no campo das propostas políticas sérias e prova-se que a geração a quem caberia a liderança do processo não tem capacidade para o fazer. Aliás, é cada vez mais evidente, que aqueles que beneficiaram com as mudanças verificadas em 1974, não quiseram realmente alterar profundamente as bases de injustiça desta sociedade. Pior, permitiram que o caminho trilhado nos conduzisse a um sistema mais violento que é este capitalismo selvagem.

A situação actual espelha uma realidade assente na continuidade das ?meias tintas? de juntar explorados e exploradores no mesmo ?barco?, como se isto fosse possível.
A escolha entre Mário Soares e Cavaco Silva é uma falsa questão. São ambos faces da mesma moeda. A prática sectária e de recuo da esquerda* ao longo de todos estes anos conduziu o país para ?mais do mesmo? levando à destruição do movimento popular.

Com a maioria do povo ?embrutecido? pelos meios a que a burguesia recorre para perpetuar a sua dominação e sem uma direcção revolucionária reconhecida e capaz de apontar os caminhos para a ruptura tudo se encaminha para que o resultado seja mais injustiça, mais exploração e acima de tudo uma saída com resultados imprevisíveis, atendendo à crescente desordenação mundial nos domínios do social, político e económico. A crescente tensão com a China é a ponta do ?iceberg? das convulsões que se avizinham.

* Por esquerda entende-se um campo em que não há lugar para ?socialismos de colarinhos à sueca? como dizia o Zeca.

20 de julho de 2005

O País dos Reformados

Para um reformado compulsivo como eu o artigo publicado abaixo abre uma nova perspectiva do problema português.
A destruição da dita ?economia nacional? iniciada nos anos 80 pelos vários ?gurus? caseiros que se dedicaram a importar modelos estrangeiros (principalmente os american way) tem a sua expressão máxima nos dias que correm. Para além de terem sido medidas desajustadas à nossa cultura e realidade elas propiciaram a descaracterização da sociedade portuguesa e à sua completa desarrumação.
Hoje vivemos numa espécie de manicómio onde as expressões mais usadas são: ?Trapalhadas?, ?embuste?, ?promessas não cumpridas? que são usadas despudoradamente por aqueles que são os campeões neste tipo de práticas.
Os milhares de reformados milionários pertencentes às castas do poder estão preocupados porque há milhões de candidatos a reformados pobres cuja única defesa está na ?fuga? para a reforma, o que poderá pôr em causa a manutenção do sistema de segurança social.

Tudo isto foi gerado durante décadas em que os mentores do sistema actual foram testando novas medidas conducentes ao caos em que vivemos.
Ter maior esperança de vida não significa ter que trabalhar mais tempo. ESTA É A FALSA QUESTÂO!
Perguntamos: Qual o patrão que prefere um trabalhador qualificado e experiente, mas com 50 anos de idade, a 2 ?rapazinhos recém-licenciados? baratinhos para esfolar?
Vista a coisa noutro sentido pergunta-se: Então a dita evolução da Humanidade no sistema capitalista em vez de aumentar o bem estar e a felicidade conduz à ruína e à miséria dos povos?

Senhores, tenham vergonha na cara e não continuem a repetir mentiras para perpetuar a exploração da maioria para alimentar uma minoria podre e caduca.
Numa sociedade em que a ?elite democraticamente eleita? precisa de sacrificar os mais velhos para poder manter o poder, este caminho conduzirá a saídas com consequências imprevisíveis tendo em conta a ausência de alternativas válidas.

Artigo enviado por João Pimentel:

O País dos Reformados
Ao menos num capítulo ninguém nos bate, seja na Europa, nas Américas ou
na Oceânia: nas políticas sociais de integração e valorização dos
reformados. Aí estamos na vanguarda, mas muito na vanguarda.
De acordo, aliás, com estes novos tempos, em que a esperança de vida é
maior e, portanto, não devem ser postas na prateleira pessoas ainda com
tanto a dar à sociedade. Nos últimos tempos, quase não passa dia sem
que haja notícias animadoras a este respeito. E nós que não sabíamos!
Ora veja-se:
o nosso Presidente da República é um reformado;
o nosso mais "mortinho por ser" candidato a Presidente da República é
um reformado;
o nosso ministro das Finanças é um reformado;
o nosso anterior ministro das Finanças já era um reformado;
o ministro das Obras Públicas é um reformado;
gestores ilustres e activíssimos como Mira Amaral (lembram-se?...) são
reformados;
o novo presidente da Galp, Murteira Nabo, é um reformado;
entre os autarcas, garantiu-o o presidente da ANMP, há "centenas, se
não milhares" de reformados;
o presidente do Governo Regional da Madeira é, entre muitas outras
coisas que a decência não me permite escrever aqui, um reformado; e
assim por diante...

Digam-me lá qual é o país da Europa que dá tanto e tão bom emprego a
reformados, que valoriza os seus quadros independentemente de já
estarem a ganhar uma pensãozita, que combate a exclusão e valoriza a
experiência dos mais (ou menos...) velhos! Ao menos neste domínio,
ninguém faz melhor que nós. Ainda hão-de vir todos copiar este nosso
tão generoso "Estado social"...

Joaquim Fidalgo
Jornalista