29 de dezembro de 2021

Reflexões no final do ano de 2021

 

Aproxima-se o final de mais um ano e, como muitas vezes no passado, passam pela minha memória, quase como em turbilhão, as imagens de 2021 que, estranhamente e à medida que os anos passam, tudo parece pior e com muito poucas esperanças das coisas mudarem.

Assalta-me a dúvida de que estarei mesmo a envelhecer e que por isso tudo parece tenebroso e a caminhar para um beco sem saída… Será?

Vamos voltar o “filme” do ano para trás e percorrer algumas das situações vividas tentando tirar conclusões.

A pandemia

Os avanços e recuos dos técnicos, cientistas e políticos até poderão parecer “normais” porque nestas coisas da ciência o que hoje é verdade amanhã pode não ser. Mas será aí que reside o problema insolúvel ? Perece-me que não, vejamos:

A pandemia afecta a humanidade globalmente e é gerida como se de um negócio se tratasse. Nos noticiários, de uma maneira geral, o que salta em primeira caixa é “o impacto da pandemia na economia” para depois desfilarem os números de infectados, internados, em UCI e mortes.

Desta forma estamos esclarecidos: O balcão à frente da barriga sobrepõem-se à atitude do médico perante o doente acamado para darmos lugar aos “comentadores” economicistas que se destacam em verborreia falsa e distorcida da realidade.
É muito comum o comentário “as pessoas é que têm a culpa” (e muitas vezes têm)
só que esta falácia esconde o essencial: O brutal e desumano negócio que se está a fazer a nível mundial com a “gestão” privada desta calamidade.

Muito recentemente vemos incrédulos a forma política adoptada aqui em Portugal por um governo em fim de vida, incapaz de pôr o dedo na ferida, por exemplo com a vergonha do negócio criminoso dos testes impostos recentemente, provocando a escassez e lançando as aves de rapina do “abençoado mercado” numa especulação desenfreada. Aliás não é só neste caso que encontramos explicações para o disparo de variantes, novos surtos e situações incontroláveis do fenómeno.

Basta de caracterizações. Arrisco fazer uma proposta para COMBATER a pandemia:

CONFISCO! Sim confisco do negócio dos laboratórios privados, quebra de patentes das vacinas e desde já desenvolver uma investigação a todos os agentes envolvidos, incluindo os políticos a nível nacional, na Europa e no mundo para apurar responsabilidades criminais na forma como tiram partido da pandemia para engordar os accionistas das corporações, muitas sem rosto, que continuam a lucrar com um problema que afecta a humanidade e que por isso não pode ser resolvido por entidades privadas que não estão fiscalizadas pela comunidade. Sejamos claros: O problema é humanitário e mundial por isso os meios para combater o vírus têm que ser suportados a PREÇO DE CUSTO sem qualquer reserva para mais valias.

Outra questão que se coloca é a necessidade do problema ser resolvido a nível global por isso não pode haver continentes e países ricos e pobres, todos têm que ter acesso às vacinas e medicamentos de uma forma IGUAL que cubram as necessidades das populações.
Não confio nas entidades mundiais tipo OMS, ONU (que já não existe há muito nem representa seja o que for) muito menos essas figuras pardas tipo Durão Barroso e Bill Gates, para não falar em muitos mais que andam por aí a defender lobbys (eu chamaria quadrilhas) e que estão organizados nas várias “instituições” do mercado capitalista mundial.

Mas não só de pandemia padecemos

A nível internacional assistimos àquilo que os “especialistas” designam por uma escalada na tensão políco-militar na fronteira da Ucrânia com a Federação Russa, envolvendo o “governo” da Europa, Estados Unidos e possivelmente o Reino Unido por um lado e a Rússia, China e Irão por outro, segundo tenho apurado nas notícias disponíveis que têm de ser lidas com algum cuidado para não se ser confundido com as várias propagandas.
Já ouvi repetidamente vários “entendidos” neste problema que a situação pode degenerar num 3.º conflito mundial, havendo ainda outros que consideram que as “provocações” russas ao redor das trincheiras ucranianas, possivelmente pagas em dólares e euros, não são para levar a sério…

Acredito que o capitalismo começa a ter dificuldades para prosseguir a sua cavalgada e manter os lucros do “grupo dono do mundo”, arranjando estratagemas e dividindo para reinar o mundo proletário que hoje já conta com o reforço da chamada classe média empobrecida. Será isto suficiente para fazer desmoronar o império tirano?…

Uma coisa é certa: A situação actual é insustentável e inviável. Ecológica, económica, social e politicamente.

Numa abordagem mais negra sou levado a pensar que os cidadãos deste mundo terão a necessidade de se organizar e usar todos os meios* para se defenderem dos vários exércitos de mercenários (pagos) que funcionam como guardas pretorianas dos vários governos instituídos mundialmente e que, quase todos já não representam as respectivas sociedades. O medo governa e a chantagem económica faz o resto deixando centenas de milhões na miséria e outros milhões a caminho dela.

Quanto ao que nos diz respeito em Portugal

Para uma clarificação necessária começo por me identificar politicamente: Penso à esquerda, exerço a cidadania, dentro das minhas possibilidades, ao nível social, considero-me um antifascista e anti-capitalista convicto, agnóstico porque não conheço provas de que o tal Deus exista ou não, mas no fundo aproximo-me do ateísmo. As religiões ao longo dos séculos só trouxeram miséria, ignorância e atraso.
Não tenho qualquer vinculo ou filiação partidária porque nem sempre concordo com as propostas e na prática dos partidos de esquerda actuais, considerando a esquerda tudo o que se situa para lá do PS que caracterizo como um partido do centro contando com algumas almas de esquerda que ainda acreditam no chamado “socialismo democrático” que nunca existiu. Porque o socialismo sem democracia é a negação do pensamento marxista, partindo do princípio de que num regime socialista, só não existe democracia para os tiranos, fascistas e exploradores dos trabalhadores, para esses não pode haver espaço que lhes permita “renascimentos”!

Indo directamente para a fase final do último governo do PS suportado por um apoio parlamentar do PCP, BE e Verdes fiquei logo de pé atrás desde que houve uma recusa dos “socialistas” num acordo vinculado desde o início do mandato e que, na minha opinião, deveria ter posto logo em alerta os partidos que suportavam esse governo.

Não ignorando que os meios de que dispõem os partidos da direita e do centro são incomparavelmente maiores do que os da esquerda, basta atentar, por exemplo, apenas para a “comunicação social” mercantilista da nossa praça e verificar a quantidade de “comentadores” liberais, direitistas e até fascistas que desfilam perante os nossos olhos não havendo oportunidade para quem defende o contrário. Poucos são aqueles que tentam furar o “discurso oficial” da “democracia com selfies e ginjinhas”.
Apesar de tudo isto não posso deixar de criticar o comportamento do PCP e do BE ao caírem na trama de um PS desejoso de ir para eleições à procura duma maioria absoluta.
Para mim torna-se claro que foi essa a intenção do partido do governo desde o início do 2.º mandato, porque eram essas as ordens vindas de Bruxelas que tinha aproveitado a oportunidade de travar a esquerda agrilhoando-a ao governo no primeiro mandato para evitar a conflitualidade que poderia existir após “as políticas além da troika” pela direita, deixando descomprimir um bocadinho a pressão dos baixos salários e dos cortes nos direitos sociais. O referido programa prosseguiu com algumas alterações ligeiras comandadas pelo banco central europeu (compra das dívidas soberanas) sob a égide do FMI e do eixo franco-alemão.

Sobre este aspecto o chumbo do orçamento socialista numa altura em que a extrema-direita levanta a cabeça e a “mãe das direitas” perfilada no PSD se reforça após lutas internas das várias facções, surge de uma forma incompreensível e até inconsequente. Como dizia Che Guevara “A verdadeira capacidade de um revolucionário mede-se pela sua habilidade de encontrar tácticas revolucionárias adequadas para cada mudança de situação.”

O passo que foi dado só poderia ter acontecido se as condições objectivas e subjectivas estivessem criadas para se poder derrubar o regime vigente, e isso não se vislumbrava.
Portanto haveria necessidade de se continuar a combater e denunciar as falsas promessas do PS, criando condições articuladas pelas esquerdas para inviabilizar a dissolução da Assembleia da República pelo Presidente das direitas e mobilizando os trabalhadores para o combate, ganhando tempo
e força para poder impor uma saída diferente e a mudança do regime. O futuro nos esclarecerá o que realmente se passou e se encarregará de atribuir responsabilidades para os diversos actores desta tragédia.
Deixo uma pergunta: Quem vai capitalizar o descontentamento crescente num ambiente de medo, trapaça, manipulação da comunicação e de profunda ignorância?

Por último, em relação à nossa situação doméstica, não posso deixar de referir o papel atribuído a um novo actor que nasceu na pandemia, refiro-me ao senhor Vice-Almirante coordenador das vacinas que de um anónimo oficial passou meteoricamente a candidato a Presidente da República, promovido pelo bloco central PS-PSD que o disputa para uso próprio.

Confesso que inicialmente me causou boa impressão e até acreditei que seria uma pessoa difícil de manipular pelo poder político. Nos últimos dias e com as declarações que proferiu fiquei mais esclarecido e mudei de opinião. Afinal é mais um que se aproxima do “altar” do poder. Não gosta de perder e pôs-se a jeito para servir manobras políticas de bastidor (veja-se o caso ainda recente muito pouco esclarecido da substituição do chefe do estado-maior da armada).

Sobre as próximas eleições legislativas de dia 30 de Janeiro de 2022

Com a previsível reorganização da direita e extrema-direita-fascista-”liberal”, um possível enfraquecimento dos “socialistas” e ainda perante as esquerdas que continuam a não se entender tacticamente, as perspectivas para o campo popular não são nada animadoras.

A grande dificuldade é e sempre foi a postura contra-revolucionária do PS que ao utilizar a fraseologia de esquerda com uma prática de direita capitalista impede de definir os campos que se opõem: Quem explora e quem é explorado.
Não quero entrar muito nas definições ideológicas porque não é isso que é importante para as necessidades do cidadão comum mas é impossível abordar este tema sem que se defina muito claramente que não pode haver “consensos” entre uma casta bem instalada e uma maioria da população que passa dificuldades e que vem empobrecendo de uma forma crescente.

Posto isto, pessoalmente, vou votar BE como tenho feito desde há muito não significando isso que acredite que possa alterar seja o que for para além de nem sempre concordar com muitas das prioridades e prática do BE.
Considero que a nossa sociedade está corrompida transversalmente e que isso levou ao crescimento dos grupos fascistas que estão a tentar capitalizar o descontentamento geral, restos de um pequeno grupo descendente do antigo regime misturado com muita gente ignorante.

Poderão alguns perguntar quem sou eu e o que tenho feito. A esses eu respondo: Vivi intensamente o PREC, acreditei num projecto para mudar Portugal e acabar com “os donos disto tudo”, vivi e participei nessa luta observando os erros que se cometeram e as traições que hoje estão à vista, mergulhei na noite tenebrosa do 25 de Novembro de 1975 e tive que retomar uma vida de trabalho para sustentar a família, para hoje estar reformado e continuar a lutar como posso. Numa coisa não me conseguem vergar, abdicar das ideias que tenho de justiça, liberdade (para todos, excepto fascistas, capitalistas e exploradores), igualdade de oportunidades, saúde, educação e cultura públicas, habitação e trabalho digno. Claro que como estava previsto inicialmente na Constituição da República acredito ser possível a construção duma sociedade a caminho do socialismo.

Para finalizar deixo um boneco que já foi classificado de simplista mas que para mim espelha o essencial. É bom que muitos pensem bem no seu significado no próximo dia 30 de Janeiro de 2022. Veremos!

(*) Constituição da República Portuguesa – Art.º 21 (Direito de Resistência):“Todos têm o direito de resistir a qualquer ordem que ofenda os seus direitos, liberdades e garantias e de repelir pela força qualquer agressão, quando não seja possível recorrer à autoridade pública.”Lei Constitucional nº 1/2004 de 24-07-2004PARTE I - Direitos e deveres fundamentais TÍTULO I - Princípios gerais

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